Cáritas reafirma opção pelos pobres no XVII Congresso Latino-Americano e do Caribe

Construir uma América para todos à luz dos ensinamentos de Cristo é um dos principias desafios que os mais de 100 representantes das Cáritas do continente reafirmaram ontem (12) durante a abertura do XVII Congresso Latino-Americano e Caribenho e do IV Encontro Continental da Pastoral Social Cáritas. Os dois eventos, que ocorrem paralelamente em Pilar, Província de Buenos Aires, prossegue até sábado (17), quando deverão ser aprovadas, em assembleia, as diretrizes que vão orientar as ações do Secretariado Latino-Americano (Selacc) e das Cáritas do continente no quadriênio 2011–2015.

Para os agentes Cáritas presentes no encontro, entregar a América indistintamente para todos os americanos é um que buscar novas frentes de luta para erradicacação da pobreza e fortalecer as existentes por meio de uma atuação conjunta com movimentos sociais e governos. Com essa afirmação, os participantes do congresso asseguraram, no primeiro dia do evento, a natureza caridosa da entidade.

Ao reafirmarem a luta pela inclusão social da população pobre da região como uma das principais metas da Cáritas latino-americana, os participantes do evento asseguraram a caridade como natureza da entidade e fundamento da ação da entidade nos próximos quatro anos. O presidente do Selacc e da Cáritas Argentina, monsenhor Fernando Bargalló, disse que viu no lema escolhido para animar o congresso “a oportunidade de reconhecer o significado do Documento de Aparecida, resultado da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em maio de 2007, em Aparecida, e, ao mesmo tempo, identifica a decepção de ver que os anos se passaram e a realidade de miséria e de exclusão social permanece no continente .

“Quem esteve reunido em maio de 2007 em Aparecida e assumiu seu documento como marco fundamental de nossos trabalhos se sente mal ao constatar que o “continente com maior número de católicos do mundo é também o maior em desigualdade social”, disse o bispo da diocese de Merlo-Moreno, localidades situadas no estado de Buenos Aires, monsenhor Fernando Bargalló. “Esta é nossa grande pátria, porém somente será “grande” quando for para todos, com maior justiça social”, afirmou. Ele declara que o tema deste congresso é fonte de força e de animação para os agentes Cáritas.

“Este lema poderia inspirar a ação evangelizadora de toda a Igreja em nosso continente. Em seu seio, como Cáritas – Pastoral social, é um imperativo especial para nós que, em nosso testemunho de amor, aprendemos a unir sempre mais à evangelização, a promoção humana e a libertação autêntica”, declarou o bispo. Segundo ele, esse sentimento foi mencionado pelo papa Bento VI ao declarar, durante a V Conferëncia, que o “amor a Deus e ao próximo é caridade e que, portanto, Deus é caridade (“Deus Caritas est"). “Amor a Deus e ao próximo, bem como a caridade, funde-se entre si: nos mais humildes encontramos a Jesus mesmo e em Jesus encontramos a Deus”, explica o bispo.

Globalização da pobreza – A secretária geral da Caritas Internationlis, Lesley-Anne Knight, alertou os participantes para globalização da pobreza. “Conforme a diferença entre ricos aumenta, as pessoas mais pobres do mundo são também as mais afetadas pelos desafios adicionais causados pelas mudanças climáticas, pelo aumento dos preços dos alimentos e pelos efeitos prolongados da crise financeira global”, analisa.

Segundo ela, “esses três desafios ilustram a naturaza globalizada da pobreza – como os pobres podem ser vítimas de eventos e de ações que têm lugar a millares de quilômetros de distância, e sobre os quais eles não têm qualquer influência. De modo semelhante, eles salientam a obrigação compartilhada que a comunidade global tem em relação ao combate à pobreza”, garante.

A representante da Cáritas Internationalis disse que “as instituições contemporâneas são, em grande parte, efêmeras, enfocando objetivos a curto prazo. Os governos vêm e vão, raramente olhando para além das próximas eleições; as empresas particulares dedicam-se a dar valor a curto prazo a seus acionistas e, mesmo no setor de desenvolvimento internacional, raramente planejamos muito além de cinco anos. É por isso que a ideia de erradicar do nosso mundo a pobreza extrema é recebida com ceticismo”, afirma.

Diante dessa situação, ela avalia que “da maneira em que as capacidades humanas se desenvolveram, a escala de nossas ambições, o alcance de nossa visão e nosso compromisso a longo prazo se reduziram”, argumenta. E acrescenta: “– Por vezes parece que toleramos a pobreza em nossas sociedades porque a grande magnitude da tarefa de sua eliminação é demasiado intimidadora”, disse.

Segundo ela, as atuais características do modelo de desenvolvimento lançam sobre a pobreza um olhar limitado e, com essa visão curta, não poderá haver a erradicação da pobreza. “É preciso haver visão de longo alcance, coragem e convicção para se dedicar a um prometo grandioso como esse de eliminar a pobreza no mundo”, desafiou. Lesley-Anne Knight disse que a pedra angular sobre a qual foi desenvolvida a visão estratégica da Cáritas para superar a pobreza é a humanidade.

“Não podemos tolerar que 30 milhões de nossos irmãos morram todos os dias por desnutrição e por doenças evitáveis. Não podemos tolerar que 1,2 bilhões de pessoas careçam de acesso ao saneamento básico. Não podemos tolerar que o direito à educação seja negado a 72 milhões de crianças do mundo inteiro, cuja maioria é meninas. Não podemos tolerar que meio milhão de mulheres e meninas morra em virtude de complicações na gravidez ou no parto ou, ainda, nas seis semanas posteriores ao parto. Não podemos tolerar que mais de um bilhão de pessoas sofram de fome todos os dias e que 70% delas sejam mulheres e meninas”, finalizou a secretária geral da Cáritas Internationalis.

Identidade e missão únicas – O XVII Congresso Latino-Americano e Caribenho tem, como principal objetivo, avançar os debates e as ações para conquistar em todo o continente uma única identidade e missão da Cáritas, por meio da conversão pastoral, para enfrentar os desafios atuais e construir uma América para todos. Outro objetivo do congresso, a ser materializado no sábado (17), é o de eleger o próximo presidente da Cáritas para a Região América Latina e Caribe e o secretário ejecutivo do Secretariado Latino-Americano e Caribenho da Cáritas (Selacc).

O congresso vai avaliar as ações da Pastoral Social – Cáritas a partir das prioridades pastorais estabelecidas no congresso anterior, realizado em Les Cayes, Haiti, em março de 2007 e também vai revisar a identidade, a atuação e as estruturas da Cáritas, definir os atuais desafios, aprofundar a espiritualidade, identificar os caminhos que podem alcançar a meta de uma América para todos, celebrar com gratidão a ação de Deus na vida, na história e nas ações da entidade e dinamizar os preparativos para a participação das Cáritas latino-americanas na Assembleia Geral da Caritas Internationalis, prevista para o próximo ano.

A Cáritas Brasileira está representada pelos coordenadores nacionais, Maria Cristina dos Anjos e Ademar Bertucci, bem como pelos assessores José Magalhães de Sousa e Carla Lisboa, pelos coordenadores regionais Loiva de Oliveira (Secretariado Regional do Rio Grande do Sul), Roque Favarin (Secretariado Regional de Santa Catarina), Ricarte Almeida (Secretariado Regional do Maranhão) e Patrícia Amorim, representante da Cáritas Regional Ceará.

Parte das solenidades de abertura, a missa celebrada pelo bispo Fernando Bargalló fez referências e homenagens a Nossa Senhora Aparecida. Os representantes brasileiros ofereceram uma imagem

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