Zé Vicente, poeta e cantor, relata sua visita ao bispo dom Pedro Casaldáliga internado em Goiás e publicado pelo sítio do Cimi, 26-10-2010.
Eis o relato.
A estrada foi longa e já era meio dia de 21 de outubro. Itamar, nosso companheiro motorista, estacionou a Kombi na sombra de um Ipê, pleno das primeiras folhas, após passagem das primeiras chuvas no cerrado goiano.
Entramos no pequeno hospital de Ceres, para acolhermos a graça da visita tão esperada.
Ali, sentado numa cadeira, tomando soro, frágil no corpo, luminoso na alma, você, Irmão Pedro, nos acolhe com o brilho de sempre, com certeza mais transfigurado ainda, pelos desafios da idade e das "irmãs doenças" que vão chegando na estação que a vida te apresenta.
Um abraço muito especial a cada um de nós - Eliane, cantora; Heriberto, músico; Itamar e eu, a quem me chamas carinhosamente de "Moleque da Caminhada".
Emocionado, te beijei na fronte. Beijo comunitário, em nome de tanta gente que me encarregou desta visita.
Mesmo pronto para viagem a Goiânia, onde faria os últimos exames antes de uma cirurgia, você, nosso Pedro, não parou de falar, com palavras e os gestos tão característicos -querendo saber de nossas ações de arte, lembrou que espera ouvir a música que compus sobre o teu poema a São José, segurou minhas mãos e falou baixinho- "dias 16 e 17 de julho de 2011, no Santuário dos Mártires, Ribeirão Cascalheira...".
Brinquei sério e crente: "Você tem obrigação de estar vivo até lá"!
Tua resposta serena e sorridente: "De qualquer maneira é Páscoa!", tua expressão soou como um misto de código e profecia.
Ao Heriberto, de origem Tabajara, falou: "um índio!" E contando os dedos exclamou: "Língua! Memória! Terra...", revelando a tua paixão crônica pelos povos a quem amaste incondicionalmente.
Para Eliane, mais gestos de carinho.
Menos de quinze minutos de relógio, ampliados na divina dimensão cósmica, para a vastidão eterna do tempo-amor ao qual pertencemos todos e todas as criaturas.
Saímos rápido, para a 4ª Romaria dos Mártires, em Carmo do Rio Verde, em memória dos 25 anos do assassinato de Nativo da Natividade.
Mesmo que o nosso coração pedisse para continuar um pouco mais contigo ali em vigília de amizade e cumplicidade, a missão de arte-vida nos avisava para seguir.
No Pátio do Hospital, recolhi várias sementes do Ipê Amarelo, que envolvi num lenço de papel. Sementes ungidas, como nossa fronte, com o teu beijo e nossas lágrimas da mais pura e agradecida emoção, ao Divino e a você: Pedro nosso, de tantos povos, do universo, do Deus da Vida Plena, sempre em estado de Páscoa permanente!
Amém! Axé! Aweré! Aleluia!
Fortaleza, 25 de outubro de
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