Íris Maria de Oliveira
Pe. Antônio Murilo de Paiva
A
PJMP “é a experiência da Igreja de rosto popular e jovem. É a
reconstrução do rosto de Cristo entre os jovens mais sofridos... A PJMP é
solidária na dor, firme na esperança, alegre em suas pequenas mas
progressivas conquistas.” Dom Sinésio Bohn (in: PJMP: Semente do Novo na
Luta do Povo)
A
PJMP nasceu em 1978 no Recife (PE), carregando na história do seu
surgimento as sementes jogadas pela Juventude Operária Católica
destruída pela ditadura com o golpe militar de 1964. Um acontecimento
marcante do seu nascimento foi o encontro realizado em 09 de julho de
1978, reunindo animadores dos grupos de jovens do meio popular do
Recife, remanescentes da JOC, no qual decidiram criar um movimento de
jovens do meio popular.
Vale
lembrar que os desejos, sonhos e formas de atuação na realidade vivida
dos jovens reunidos neste encontro não é algo isolado. O final dos anos
70 e os anos 80 no Brasil foi um período marcado por grandes movimentos
de massa e pelo ressurgimento da sociedade civil, sobretudo das camadas
populares, no cenário político nacional.
Em
nível eclesial, este é também o período em que a Igreja Católica
assumiu a defesa dos direitos humanos e tornou-se uma voz profética
contra a ditadura e o sistema capitalista. Um acontecimento marcante em
torno disso foi a realização da Conferência do Episcopado Latino
Americano em Puebla, em janeiro de 1979, da qual resulta um documento
orientador desse posicionamento da Igreja Católica latino-americana. E,
no que diz respeito à juventude, não podemos esquecer que foi em Puebla
que Dom Hélder Câmara apresentou a proposição, aprovada nesta
conferência, de uma pastoral de juventude por meio social. Além dessa
proposição de Dom Hélder, Puebla recomenda ainda que a Pastoral da
Juventude atenda o aprofundamento e crescimento dos jovens na fé; possua
uma metodologia transformadora e oriente a opção vocacional (Puebla
1187).
Assim,
o contexto inspirador para o nascimento da PJMP foi, por um lado, a
realidade concreta dos jovens e o ressurgimento das lutas sociais e
políticas que acontecia no Brasil, e, por outro, o contexto eclesial da
Igreja Latino-Americana e do Regional NE II, que sob a orientação e o
pastoreio de Dom Hélder Câmara, construía um modelo de organização
pastoral no qual o pobre era sujeito histórico de libertação. A PJMP
nasceu bebendo no seio desta Igreja e assumiu a visão de que a
transformação da realidade é obra dos oprimidos e de todas as pessoas de
boa vontade que se comprometem com as lutas de libertação.
Ela
compreendeu, desde o seu nascimento, que uma pastoral de jovens não
pode tratá-lo genericamente. Neste sentido, nasceu e se consolidou sendo
um espaço onde os jovens empobrecidos tomam consciência da sua
realidade e nela atuam para transformá-la.
Estas
idéias, que são o fundamento da proposta de pastoral da juventude da
PJMP, têm sido ao longo da sua história uma ousadia e um atrevimento
evangélico, à medida que traz para dentro da Igreja uma discussão que,
se hoje já não assusta e até pode ser tratada sem tabu, na década de 70
era inconcebível: uma pastoral por classe social. Por isso, sua relação
com alguns setores da comunidade eclesial, às vezes, foi marcada pelo
conflito.
O
objetivo dos que ousaram fazer nascer a PJMP, era, naquele momento,
suscitar entre os jovens do meio popular, uma vivência da fé a partir da
sua condição social e de classe. Que a juventude empobrecida se
evangelize! que os jovens do meio popular se tornem sujeitos de sua
própria libertação! É o grito da PJMP no seu nascimento e tem sido o seu
maior desafio (Ver: PJMP. Do meio popular, um canto jovem. s/d,
mimeog. p. 48). A semente lançada no Recife, logo se espalhou por todo o
nordeste e para o país, em 1979 acontecia o primeiro encontro nacional.
Este
objetivo vem sendo aprofundado, rediscutido ao longo da nossa
caminhada, a fim de que nossa ação pastoral possa acompanhar a dinâmica
da realidade em que vivemos e atuamos, em todas as suas dimensões. Em
1994, após ampla discussão, a PJMP definiu em assembléia nacional o
seguinte objetivo: “vivenciar e testemunhar a proposta do Reino de Deus
estando presente na vida, na luta e nos sonhos dos jovens empobrecidos,
visando evangelizar, numa prática libertadora, contribuindo na
transformação da pessoa humana e da sociedade”.
O NASCIMENTO DA PJMP
Com
impressão política advindo da ditadura militar, após o golpe de 64, os
movimentos da Ação Católica Especializada se desarticularam. No caso da
JOC, apesar de se ter realizado seu "enterro simbólico", os militantes
remanescentes continuaram a fazer um trabalho de base com os jovens do
meio popular em algumas cidades do Nordeste. Este trabalho visava
suscitar uma vivência de fé, dentro e a partir da condição de classe do
próprio jovem.
Isto resultou no surgimento de muitos grupos de jovens do meio popular e começou-se uma articulação e organização.
Em
Julho de 1978, acontece o 1º Encontro de Animadores dos Jovens do Meio
Popular do grande Recife. Este encontro tinha o objetivo de proporcionar
entrosamento, visando o aprofundamento de pontos comuns que pudessem
ajudar na caminhada.
Dentre sins principais conclusões, o encontro apontou para:
- Criação de um movimento que articule e dê unidade aos grupos;
- aplicação de uma metodologia de acompanhamento visando um compromisso transformador do jovem com seu meio;
- Preocupação com um conteúdo de evangelização que dê unidade entre a história da humanidade e a história da salvação."
Este
encontro tornou-se um marco importante no início de urna pastoral dos
jovens do meio popular. A semente da PJMP havia sido lançada em Recife.
A
nível de Nordeste, os encontros inter-regionais de animadores de
pastoral de juventude, desde seu 1 Encontro (jan./78 - João Pessoa),
questionavam a existência da Pastoral da Juventude Genérica ou Geral, e
se encaminhavam para a criação de uma Pastoral da Juventude que levasse
em conta o meio especifico, o que se reafirma no II Encontro, em janeiro
de 1979.
É
no III Encontro Inter-Regional de Animadores de Pastoral de Juventude
do Nordeste, ocorrido em fevereiro de 1980, em Olinda, que se aprofunda
especificamente a importância de se levar em consideração o meio social
na organização da Pastoral da Juventude, isto é, organizar os grupos de
jovens levando em conta os meios sociais.
Dom Marcelo Carvalheira, na apresentação do relatório desse III Encontro, destaca:
“Precisamos
levar até às últimas conseqüências a distinção dos meios, para que
passe de ama Pastoral da Juventude Genérica, vaga e indefinida, para uma
Pastoral da Juventude Específico. de cada meio social, definida pelas
características peculiares de cada meio e marcada pela ótica do
oprimido."
ORGANIZAÇÃO A NÍVEL NACIONAL
Simultaneamente
ao que acontecia em nível de Nordeste, noutros lugares do país,
animadores que trabalhavam junto aos jovens populares, preocupados com o
trabalho pastoral e impulsionados pela necessidade de trocar
experiências, passaram a participar dos encontros inter-regionais da
pastoral da juventude do Nordeste. Desses contatos surgiu urna tentativa
de articulação em nível nacional.
Em
julho de 1979, acontece em Olinda- PE, o 1º Encontro Nacional de
Animadores Jovens/Adultos do Meio popular. Este encontro é considerado
como o 1º ENCONTRO NACIONAL DA PJMP. Neste encontro cogita-se a criação
de um movimento nacional de jovens do meio popular, sem vínculo com a
hierarquia da Igreja, porém, contando com seu apoio.
Em
julho de 1980, acontece, em São Paulo, o II ENCONTRO. A proposta de
formação de um movimento não era consenso. Os que se colocavam contra,
defendiam uma pastoral com uma linha e prática definidas a partir dos
meios sociais. Afirmavam não ser necessária a criação de um movimento
para garantir a formação da consciência de classe dos jovens do meio
popular e seu engajamento nas lutas populares. O II Encontro opta,
então, pelo caráter pastoral da organização.
Em julho de 1982, em Juazeiro- BA, acontece o III ENCONTRO NACIONAL DA "PASTORAL DA JUVENTUDE DO MEIO POPULAR".
Depois
do encontro de Juazeiro, há uma desarticulação nacional. A PJMP só
retoma a articulação nacional em 1984 por ocasião do V Encontro Nacional
de PJ. Após este encontro aconteceu uma reunião com os regionais que
continuavam vivenciando a experiência do trabalho com os jovens do meio
popular.
Esta reunião é o marco fundamental da retomada da articulação nacional e é considerada como o IV ENCONTRO NACIONAL DA PJMP.
Em 1985, acontece o V ENCONTRO NACIONAL DA PJMP onde são dados alguns passos mais profundos.
Estavam
presentes os Regionais Extremo-Oeste, Leste II, Sul IV e Nordeste I,II e
III. Foi um momento de por os pés no chão e ver qual a realidade
concreta da PJMP a nível nacional: as dificuldades, os desafios, as
diferentes formas de conceber a proposta e os passos a serem dados para a
continuidade da articulação.
As principais decisões deste Encontro foram as seguintes:
o A
formação de uma Comissão Nacional provisória da PJMP, escolhida na
própria reunião. Esta comissão recebeu a função de encaminhar uma
consulta aos Regionais e Pastorais afins sobre a realização de Encontro
Nacional da PJMP, com o objetivo de articular as experiências que tinham
uma proposta de Pastoral da Juventude da classe oprimida.
o A escolha de um secretário, para ser o ponto de referência nas comunicações.
o O encaminhamento de um subsidio com a história da PJMP, tarefa assumida pelo Nordeste.
O
VI ENCONTRO aconteceu no período de 11 a 18 de dezembro de 1987, em
Brasília. O primeiro passo na preparação deste Encontro foi a retomada
histórica da caminhada da PJMP nos regionais articulados nacionalmente.
É
uma história construída com muito sofrimento, carinho e, acima de tudo,
com a certeza de estar contribuindo na libertação do homem todo e de
todos os homens. Errando e acertando, repensando e avaliando a
caminhada, a PJMP vai sendo construída por todos aqueles que acreditam e
assumem um trabalho pastoral a partir do meio social.
Os assuntos tratados no encontro foram:
o Identidade da Pastoral da Juventude do Meio Popular;
o Metodologia no processo de iniciação e militância;
o Formação, organização e espiritualidade da PJMP.
O
VI ENCONTRO é considerado como ponto de chegada de uma caminhada de 10
anos de PJMP e como ponto de partida. É um marco referencial que ajuda a
contestar e enriquecer a prática pastoral.
A
PJMP, unida às outras pastorais e aos movimentos que progridem na
evangelização e libertação, quer participar na grande caminhada da
Igreja Latino-americana, sendo "semente do novo na Luta do povo".
Neste Encontro participou Ricardo Figueiredo, então assessor do Regional Leste II e da Coordenação da PJMP de Carapina-ES.
Aconteceu
de 09 a 13 de janeiro de 1990, em Salvador-BA, o VII ENCONTRO NACIONAL
DA PJMP. O tema do encontro foi "a Eclesialidade e Militância da PJMP",
tentando discutir os questionamentos e desafios que se apresentam
durante a caminhada.
Apesar
de toda a problemática da relação do jovem com a estrutura hierárquica,
o encontro foi marcante pela animação e pelo compromisso de buscar,
junto com outras pastorais populares, a maneira de construir uma
proposta de Igreja a partir de Jesus Cristo, comprometida na luta por
uma sociedade alternativa.
Representando a Arquidiocese de Vitória, esteve presente Givaldo V. Silva, assessor leigo da Coordenação de Carapina-ES.
CONHECENDO A HISTÓRIA
Para
conhecermos a história da Pastoral da Juventude é necessário fazermos
um levantamento dos movimentos anteriores que lhe deram origem. Dentre
estes, os mais importantes foram os da Ação Católica. No período de 1930
a 1940, notamos uma presença significativa da Igreja no meio da
juventude, sob o signo da Ação Católica. Até então, sobressaiam-se as
Congregações Marianas, as Associações Cristãs de Moças, Filhos de Maria,
Legionários de Maria, etc.
A
Ação Católica marcou a Igreja em todo o mundo por quatro décadas, de
1930 a fins de 1960. Originalmente como forma de aglutinar os leigos
católicos, para campanhas contra o materialismo consumista do
capitalismo, contra o materialismo ateu do comunismo e contra os
totalitarismos de direita (Nazismo, Fascismo) aos poucos transformou-se
no grande veículo de participação dos leigos na vida intra-eclesial (
dentro da Igreja ).
A história da Ação Católica pode ser dividida em dois grandes períodos:
Ação Católica Geral ; e
Ação Católica Especializada.
AÇÃO CATÓLICA GERAL
A
Ação Católica Geral, tem inicio com o movimento Juventude Feminina
Católica ( JFC ), em 1932. A partir da experiência da JFC, articulam-se a
Juventude Católica Brasileira (para rapazes), os Homens da Ação
Católica ( HAC ) e a Liga Feminina da Ação Católica ( LFAC ) que
agrupados e regidos por um estatuto, aprovado em 1935, formavam a Ação
Católica Brasileira (ACB).
Este
primeiro momento vai até o início dos anos 50, caracterizado por seu
aspecto apostólico / missionário dando aprofundamento à dimensão social
da fé.
AÇÃO CATÓLICA ESPECIALIZADA
A
partir de 1950, começa a fase de especialização do movimento que,
anteriormente baseado na distinção do sexo e idade, passa a assumir
outro padrão, tendo como referencial o espaço de atuação. Como
conseqüência deste processo surgem os movimentos intitulados:
- Juventude Agrária Católica ( JAC );
- Juventude Estudantil Católica ( JEC );
- Juventude Independente Católica ( JIC );
- Juventude Operária Católica ( JOC );
- Juventude Universitária Católica ( JUC ).
Nesse
momento, que vai até o fim dos anos 60, a Ação Católica Especializada e
especialmente a JOC, JEC e JUC vivem a influência muito grande das
idéias do Cônego José Cardijn e do filósofo Jacques Harítain Cardijn
desenvolveu, a partir da sua experiência com a JOC da Bélgica, o método
VER-JULGAR-AGIR. Jacques Maritain, investigando a "ação do cristão ao
longo do tempo", elaborou o conceito de "Ideal Histórico Concreto" que
mostrava a possibilidade da concretização do Reino de Deus na História. A
gradual politização dos movimentos da Ação Católica provoca, mais
acentuadamente em 1964 e 1969, a ação direta das forças de repressão no
esforço de desarticulação e esfacelamento destes.
Atribui-se
a Ação Católica, e em especial e JUC, a experiência histórica que criou
as bases para o desenvolvimento teórico da Teologia da Libertação, da
Opção Preferencial pelos Pobres e da concepção da Igreja como "povo
organizado a caminho da libertação” (Obs.: A JOC sobrevive até hoje.)
OS MOVIMENTOS DE ENCONTRO
A
desarticulação dos movimentos da Ação Católica provocou um recuo
significativo na trajetória da PJ. No período que vai de 1969 a 1974,
nasceram e difundiram-se com grande rapidez inúmeros movimentos de
jovens. Estes movimentos, baseados nos Cursilhos de Cristandade, usavam
uma metodologia de impacto emocional, colocavam como a raiz dos
problemas sociais: o egoísmo pessoal e não despertavam no jovem uma
consciência critica diante do problema social. Estes aconteceram numa
época de fechamento político. Foi o único tipo de Pastoral da Juventude
possível frente à conjuntura política da época.
A PASTORAL DA JUVENTUDE ORGÂNICA
A
partir da segunda metade da década de 70, a PJ passa a ser o novo
instrumento teórico em substituição aos movimentos de encontro de cunho
nacional e local. Esta Pastoral surge a partir da necessidade sentida
pela coordenação dos grupos paroquiais que começam a se organizar por
Diocese, Regional e a nível Nacional, tendo em vista os desafios que a
juventude apresenta para a Pastoral da Igreja.
A PASTORAL DA JUVENTUDE POR MEIOS ESPECÍFICOS
Uma
questão que perpassou e perpassa a caminhada da juventude da Igreja no
Brasil é a questão da organização dos jovens por meios específicos. Se
no tempo da Ação Católica esta questão foi, por assim dizer, imposta por
decisões vindas de fora, na Pastoral da Juventude do Brasil, foi uma
questão descoberta aos poucos, com base na troca de experiências e na
discussão sobre o melhor da juventude tornar-se uma força transformadora
e iria pastoral que levasse realmente ao engajamento. Foram surgindo,
por isso, aos poucos, as diferentes pastorais especificas de juventude.
Embora levadas por perspectivas um tanto diferentes, as duas primeiras
que se firmaram foi a PASTORAL DA JUVENTUDE DO MEIO POPULAR (no
Nordeste) e a PASTORAL UNIVERSITÁRIA. Levadas por este processo de
reflexão e organização, surgiram depois a PASTORAL DA JUVENTUDE
ESTUDANTIL e a PASTORAL DA JUVENTUDE RURAL.
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