Fonte: Jornal Correio da Semana - Pe. Valdery Rocha
Prossegue até amanhã, dia 21, em Madrid, a JORNADA
MUNDIAL DA JUVENTUDE, reunindo milhares de jovens provenientes de cerca
de 190 países de todos dos continentes, mais de uma dezena de milhares
do Brasil, algumas centenas de cearenses, mais de uma dezena de
sobralenses, dois saídos de nossa Região Pastoral Vale do Acaraú: Pe.
Marcone Martins, de Caiçara, e Ana Paula, de Cruz, onde sou Pároco.
Estas Jornadas são uma das belas iniciativas
nascidas da espontaneidade juvenil do coração de João Paulo II que
conquistou para si a amizade dos jovens do mundo inteiro. Na Espanha,
celebrou a primeira em Santiago de Compostela. Bento XVI celebrou a
última em Sidney (Austrália).
A Jornada é dos jovens, mas é parte integrante dela a
presença do Papa no meio dos jovens. Assim é que, quinta-feira última
(dia 18), pela manhã e acompanhado de jornalistas, Bento XVI desceu do
avião que o trouxe do Vaticano e foi recebido no aeroporto de Madrid
pelo rei Juan Carlos e sua mulher, pelo chefe de Governo, Zapatero, e
pelo líder da oposição Mariano Rajoy, além, naturalmente, dos civis e
militares e pela avalanche de peregrinos jovens da Jornada Mundial que
enchiam as ruas da capital espanhola.
Para a estada em Madri, de 18 a 21 de agosto, nesta
sua 3ª. viagem à Espanha, o país preparou um dos mais ingentes
dispositivos de segurança do pós-Franco, com mais de 10 mil homens da
polícia e da Guarda Civil. Quando Bento XVI aparecer em público, será
fechado o espaço aéreo de Madri. Além da prevenção a atentados – revela o
jornal ‘El Mundo’ – existe também o temor das contestações anunciadas
por movimentos e sindicatos indignados com os custos da visita. Não
obstante a normal preocupação, a Espanha ‘zapateriana’ acolhe o Papa de
braços abertos. O governo socialista garantiu a máxima colaboração,
assim como as autoridades locais.
Bento XVI terá encontros com o Rei Juan Carlos, e
com as outras autoridades. Os encontros vão-se dar mesmo no clima das
grandes mudanças do pós-Franco e dos anos Zapatero, que ultimamente
vinha afrontando a Igreja com a tomada de atitudes do desagrado das
autoridades religiosas, entre elas a lei, aprovada, anos atrás, pelo
Parlamento espanhol, que permitiu aos homossexuais casarem-se. Na época o
diário do Vaticano, L’Osservatore Romano, considerou a legislação uma
«degradante derrota da humanidade». Um dado, todavia, merece destaque: a
população continua a declarar-se 72% católica, mesmo se pouco
praticante.
Na chegada, Bento XVI foi recebido pelos jovens em
palco armado, percorreu com eles a Via Sacra na sexta-feira e amanhã
(domingo) um milhão de jovens o espera para o Encontro com o Papa,
quando este lhes dirigirá uma palavra de vida e esperança, sem faltar
certamente o apelo tão próprio de João Paulo II: “Não tenhais medo!”.
AUTORIDADES DE OUTRAS RELIGIÕES SAÚDAM A JORNADA E O PAPA
Por conta do diálogo inter-religioso que hoje é
praticado pela Igreja Católica, a Jornada é saudada também por
não-católicos e por membros de religiões não cristãs. Manchete da
imprensa noticia: “Hindus Saúdam o Evento Jovem”, continuando assim: A
comunidade hinduísta enviou seus votos ao Papa Bento XVI pelo êxito do
encontro. O estadista hindu Rajan Zed, enviou um comunicado desde Nevada
(EUA), desejando ao papa sucesso em infundir espiritualidade na
juventude de hoje. Zed, que é presidente da Sociedade Universal do
Hinduísmo, destacou que dado que a complexidade e as distrações da vida
de hoje distanciaram a religião das prioridades de muitos, o “estilo
convencional de lidar com a espiritualidade e a religião parece não ter
efeitos, especialmente com a juventude atual”. Zed sugere às
organizações e líderes de várias religiões e denominações do mundo que
lutem para tornar a religião mais vibrante, atraente e cativante para
manter as pessoas em contato com Deus.
A autoridade religiosa hindu lembra que a juventude
não é hostil à religião. Em meio à sociedade consumista de hoje, líderes
religiosos e organizações precisam refletir para difundir práticas
criativas e novas, idéias para tornar seu ‘produto’ mais competitivo.
“Um mundo espiritual será um lugar melhor para viver do que um mundo
não-espiritual” – acrescentou.
Os discursos
Pela televisão, ouvi a saudação que o Rei pronunciou
para o Papa e sua comitiva. Também o discurso do Papa ao descer do
avião. Na sua fala, aliás, um tanto longa, Juan Carlos mostrou o orgulho
de sua nação em sediar, pela segunda vez, um evento de tamanha
significação. Católico, e reinando sobre uma população de grande maioria
católica, agradeceu a Deus, já por antecipação, os inúmeros benefícios
que a Jornada trará à sociedade espanhola bem como a de todos os países.
Para tal esperança evocou Sua Majestade as transformações havidas em
razão da Jornada anterior, a primeira, acolhida pelo país.
Bento XVI iniciou sua saudação dizendo que vinha a
Madrid para se encontrar com os todos os jovens interessados em Jesus
Cristo. Alertou-os para o desafio que é para o jovem cristão de hoje
viver neste mundo pós-moderno marcado pelo indiferentismo, pelo
consumismo, pelo apelo ao uso de drogas mortíferas e pela cultura da
banalização da sexualidade, um dom de Deus. Manifestando sua alegria
por orar, discutir e se encontrar com a juventude do mundo inteiro,
disse com ênfase: “Há um futuro brilhante para os jovens que se unem a
Cristo no caminho da vida!”.
A IGREJA NÃO ESTÁ SABENDO FALAR AOS JOVENS DE HOJE
As Jornadas Mundiais da Juventude, preparadas por
longo tempo e reunindo uma multidão de pessoas não devem ser vistas como
demonstração de força de uma instituição religiosa que é capaz de levar
à praça, para a oração e a escuta do Evangelho, tão grande quantidade
de jovens. Longe disso, elas trazem um sentimento generalizado de que a
Igreja vem se aproximando e quer estar próxima dos jovens. Elas até se
constituem um aprendizado nestes tempos reconhecidamente difíceis em
que, na opinião de lúcidos pastoralistas, a Igreja não está sabendo
falar aos jovens. Situação que também caracteriza a família dos nossos
tempos.
Consciente disso, vivenciamos, faz algum tempo, no
Brasil, a Semana da Família que, coincidentemente com a Jornada de
Madrid, estaremos encerrando também no dia de amanhã. Em nossos debates,
tem sido comum a reflexão de que os pais estão emocionalmente
despreparados para conviver com os filhos e apelam para a Igreja em seu
socorro. Há pouco tempo, escrevia desta coluna: “Desde Aristóteles,
ainda no século IV antes de Cristo, acertadamente se costuma dizer que
as sociedades são o que são as famílias que as constituem. No mundo
moderno em que vivemos, a referência se afirma com maior precisão. Só
que para mostrar a debilidade com que se apresentam hoje nossas
famílias. Na busca de fazer de nossas crianças pessoas corretas e dignas
no futuro, todos nós, perplexos diante da sua incompetência para
gerenciar o montão de problemas novos que devem ser trabalhados no
interior de nossos lares, mesmo nos que se rotulam de cristãos, apelamos
para a Igreja em busca de orientação e rumos.”.
HAVERÁ LUGAR PARA A PJMP?
Valendo as informações que circulam na mídia, no
final da Jornada de Madrid, imitando o que fez em Sidney, Bento XVI vai
apontar um novo rumo: “VAMOS AO RIO COM O PAPA”. È que o Rio de Janeiro
sediará a próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Por ser América
Latina, marcada por lutas e vivência de uma juventude historicamente
comprometida também com as causas sociais, é de se esperar que aqui haja
lugar para um segmento por demais importante da juventude católica: a
Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), nascida ainda em 1978, no
Recife (PE), em tempos de Dom Helder, visando a suscitar entre os jovens
do meio popular, uma vivência da fé a partir da sua condição social e
de classe.
PJMP: ainda viva e atuante no Nordeste e em muitas
outras Dioceses do Brasil, mas sem visibilidade nenhuma nas Jornadas
Mundiais até agora realizadas.
* Professor do Instituto de Teologia e Pastoral (ISTEP) e Pároco de Cruz
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